Plantas saudáveis – tudo o que queremos!
Os
fungos são um dos grandes problemas no cultivo de orquídeas. Em geral, muitas
condições indicadas para as orquídeas (como umidade ambiental) também são favoráveis
para os fungos. Assim, de forma preventiva, devemos adotar um manejo correto
para evitar esta adversidade.
Algumas
recomendações importantes :
– Substratos limpos
– Ferramentas desinfetadas antes de usá-las. Caso for mexer em uma outra
planta, desinfectar novamente. Existem substâncias químicas para isto, ou mesmo
o álcool. Mas o melhor meio é o fogo.
– Evitar que os vasos fiquem muito próximos pois muitos fungos tem seus
esporos disseminados pelos respingos da irrigação ou a água da chuva.
– A ventilação é um item vital pois
evita que o ambiente fique úmido por muito tempo, o que facilita a disseminação
de esporos.
– O piso do orquidário deve ser de brita ou material de rápida drenagem para
evitar o acúmulo por muito tempo de umidade.
– Retirar as partes doentes das
plantas, aplicando algum protetor (como canela ou pasta fúngica) nos locais
onde houve a lesão.
– Fazer estudo e utilizar os fungicidas mais eficientes. Muitas vezes o rodízio
de fungicidas (principalmente no caso de orquidários maiores) evita o
surgimento de fungos resistentes.
– Todos os fatores ambientais (como luminosidade, temperatura, irrigação,
adubação, entre outros) devem ser fornecidos criteriosamente para que a planta
tenha as melhores condições de saúde, tornando-se mais resistentes.
– A limpeza do orquidário deve ser
exemplar, sem entulhos ou qualquer acúmulo desnecessário. Nas visitas diárias
recolher todo material que é retirado (como folhas velhas, flores murchas,
substratos, etc) para posterior descarte. Jamais jogue no chão.
Os
fungicidas
Mas
mesmo tomando todas as medidas preventivas ainda podem surgir doenças fúngicas
(ou outras). Neste caso precisamos utilizar os fungicidas, de origem química ou
orgânica, para restituir a saúde da orquídea. São muitos os produtos sintéticos
vendidos em casas especializadas e não vou entrar no detalhamento destas
substâncias. Penso que devemos usá-los em casos onde não há outro meio. São
sempre tóxicos e podem acarretar algum dano ambiental e à saúde humana e
animal. Encorajo o estudo de plantas que possuem princípios ativos que nos
interessam para tal propósito.
Aloé
Só
como informação, a American Orchid Society recomenda o pó / óleo de canela como
excelente fungicida. Também o U.S. Enviromental Protection Agency cita a canela
como pesticida sem riscos. De minha experiência própria, uso a canela aplicada
à Aloe vera (planta simplesmente extraordinária) formando uma pasta protetora
nas lesões da planta. A Aloé é germicida, desinfetante e cicatrizante e tem uma
mucilagem colante que permite que a canela atue por longo tempo.
As principais doenças fúngicas
– Mofo
cinzento: É uma doença que se caracteriza por
apresentar pontos escuros nas flores, eventualmente também nas folhas. É comum
em Phalenopsis, Cattleya e Dendrobium. O patógeno chama-se Botrytis cinerea e
geralmente manifesta-se no inverno e primavera. Os esporos são difundidos pela
água e pelo vento. As plantas ficam com o crescimento dificultado, as flores
ficam feias e morrem. Posteriormente há severa perda de folhas, caso nada
seja feito. É facilmente controlado ao manter as orquídeas em ambiente de boa
circulação de ar e irrigando apenas as raízes. Nunca molhe as flores. Ao
perceber o fungo, descartar a parte afetada. Em caso muito grave, o fungicida indicado
tem como princípio ativo o Mancozeb (Dithane ou Manzate). Além dos já citados,
também pode afetar os gêneros: Aerides, Ascocentrum, Brassia, Brassocattleya,
Brassolaeliocattleya, Broughtonia, Calanthe, Cycnoches, Cymbidium,
Doritaenopsis, Epidendrum, Laelia, Laeliocattleya, Maxillaria, Miltonia,
Oncidium, Paphiopedilum, Phaius, Potinara, Trichoglottis, Vanda e Vanilla.
Botrytis cinerea
– Fusariose:
Afeta as raízes, os pseudobulbos, folhas e flores. Ou seja, se não tratar mata
a planta. Também conhecido por “canela seca”. Os sintomas são manchas ovais
marrons nas flores e folhas novas, dificuldade de crescimento, murcha e
clorose. Três ou quatro manchas nas folhas são característica da doença, que se
alastra rapidamente. É preciso remover as partes infectadas usando ferramentas
esterilizadas (a chama do fogão é o suficiente). A infecção ocorre pelas
raízes, sendo que o dano causado no sistema vascular dificulta o transporte de
água e nutrientes. Se cortamos o pseudobulbo percebe-se linha escuros indo em
várias direções. Tem um cheiro desagradável de podre. O agente causador é o
Fusarium oxysporum e o Fusarium solani. O fungo gosta de temperaturas entre
25ºC e 30ºC. A forma principal de propagação é através do uso de ferramentas de
corte não esterilizadas. Segundo a Houston Orchid Society, os sintomas
desenvolvem-se mais em plantas estressadas pelo calor e em condições de umidade
muito elevada. Utilização muito pesada de fertilizantes também contribui para o
desenvolvimento da moléstia. Não há cura garantida para o Fusarium. O melhor é
prevenir. No caso de usar fungicidas, aconselha-se os de contato (mancozeb) e
os sistêmicos (mefenoxam, tiofanato-metílico), tão logo apareçam os sintomas.
Um exemplo, respectivamente são o Manzate / Dithane e o Ricomil / Cercobin. Mas
sempre que possível aconselho a evitar defensivos tóxicos. Os gêneros mais
afetados são: Aerides, Ascocenda, Brassavola, Brassocattleya,
Brassolaeliocattleya, Bulbophyllum, Catasetum, Cattleya, Cycnoches, Cymbidium,
Dendrobium, Lycaste, Oncidium, Phalaenopsis, Potinara, Sophrolaeliocattleya e
Vanda.
– Podridão negra : Gerada pelo fungo Phytophthora e
Pythium. Algumas espécies destes fungos atacam o Dendrobium, gerando manchas
amarelo esverdeadas nas folhas, ficando negras posteriormente. A moléstia
progride através das raízes e a chance da planta morrer é grande. As partes
atacadas ficam moles destacando-se facilmente da planta. Nas mudinhas novas
ocorre o “dumping-off” (tombamento). Os esporos são dispersos via água e também
por contato. Temperaturas amenas / elevadas e alta umidade favorecem este
patógeno. Assim, nestas condições, o cuidado tem de ser grande. Eliminar as
partes afetadas é a primeira atitude, além de ter atenção na irrigação. Em
orquidários maiores a aplicação preventiva de fungicidas pode ser inevitável. A
doença é muito contagiosa e se as medidas de combate não forem suficientes,
tem-se de eliminar a orquídea. Os principais gêneros atacados são: Brassia,
Coelogyne, Cymbidium, Laelia, Aerides, Ascocentrum, Epicattleya, Maxillaria,
Paphiopedilum, Potinara, Rodriguezia, Brassavola, Brassocattleya,
Brassolaeliocattleya, Cattleya, Cyrtopodium, Epidendrum, Laeliocattleya,
Oncidium, Vanda e Phalaenopsis além do Dendrobium (já citado).
– Manchas foliares de Phyllosticta : O patógeno é o
fungo do gênero Phyllosticta. Ocasiona manchas amareladas nas folhas que
tornam-se marrons com o tempo ou mesmo negras quando o fungo vai produzir
esporos. Estes esporos são disseminados pelo vento e água. O formato das
manchas é circular ou ovalado, bordas bem definidas e no centro pode-se ver os
picnídios (órgão de frutificação do fungo). Formam estruturas que ficam imersas
no tecido do hospedeiro e aquilo que é perceptível na superfície é apenas uma
pequena parte do patógeno. A faixa de temperatura boa para este fungo é entre
25ºC e 30ºC. Segundo a Universidade do Hawai, não há tratamento químico
satisfatório para esta doença. Quando as manchas começam a se desenvolver, o
melhor é cortá-las, não deixando também nenhuma folha morta na planta ou no vaso.
Isto impede a contaminação nas plantas sadias. O melhor, quando da irrigação, é
fazer no início do dia, permitindo rápida secagem. Ambientes com boa circulação
de ar são imprescindíveis para qualquer espécie que estejamos cultivando.
Embora seja doença mais comumente vista em Dendrobium e Vanda , também pode
ocorrer em Cymbidium, Brassolaeliocattleya, Cattleya, Epidendrum, Laelia,
Laeliocattleya, Odontoglossum. Oncidium e Phalaenopsis.
– Antracnose
: Gerado pelo fungo Colletotrichum. As folhas ficam com manchas marrom escuras
ou acinzentadas que formam anéis concêntricos, com leve depressão. Atacam tanto
os “seedlings” (mudinhas) como as plantas adultas. É favorecido por
temperaturas mais baixas (entre 10º e 20º) e alta umidade. Para prevenir, evite
locais sombreados, de pouca circulação de ar e isolando a planta quando for
atacada. O combate é feito com a aplicação de sulfato de cobre sobre as partes
atacadas ou com fungicidas sistêmicos (Mancozeb). Os gêneros afetados são:
Aerides, Ascocenda, Ascocentrum, Brassavola, Brassia, Brassocattleya,
Brassolaeliocattleya, Bulbophylum, Catasetum, Cattleya, Cymbidium, Cyrtopodium,
Dendrobium, Epicattleya, Epidendrum, Laelia, Laeliocattleya, Maxillaria,
Miltonia, Odontoglossum, Oncidium, Paphiopedilum, Phaius, Phalaenopsis,
Pleurothallis, Rodriguezia, Sophrolaeliocattleya,, Vanda, Vanilla, Zygopetalum,
entre outros.
– Podridão
das raízes: O fungo causador é do gênero Rhizoctonia que
seca os pseudobulbos e causa deterioração radicular, o que tira a vitalidade da
parte aérea e fim de novas brotações. Lentamente mata a planta. O patógeno
gosta de alta umidade e temperaturas beirando os 30ºC. Possui muitos
hospedeiros, sendo assim é importante eliminar restos culturais tanto no
orquidário como nos arredores. Os cuidados com esterilização de ferramentas são
fundamentais, o que é uma atitude que pode-se considerar como uma recomendação
geral. Também o exagero na irrigação ou a má drenagem facilita o surgimento da
doença. Tratamentos químicos são feitos com fungicidas sistêmicos. Orquídeas
atacadas: Aerides, Brassavola, Brassocattleya, Cymbidium, Dendrobium,
Epicattleya, Epidendrum, Laeliocattleya, Oncidium, Paphiopedilum, Phalaenopsis,
Potinara Vanda, entre outras.
– Ferrugem
: Os agentes causadores podem ser vários,
destacando-se: Sphenospora kevorkianii (=Uredo nigropunctata), Sphenospora
mera, S. saphena , Uredo epidendri, U. behnickiana e Hemileia oncidii . Este
último se diferencia por não apresentar pústulas. Estes fungos gostam de uma
combinação de alta umidade com temperaturas amenas. Ocorrem em vários países
desde os EUA até o Brasil. As folhas são as partes atacadas, principalmente na
parte inferior, onde aparecem pequenas pustulass alaranjadas ou mesmo
marrom-avermelhadas. O pó alaranjado são os esporos que se disseminam pelo
vento e pela água. Crescem com grande rapidez. Como medida inicial, deve-se
cortar as partes atacadas e queimá-las. Nunca jogar no chão próximo ao
orquidário. Em seguida é aconselhável deixar a planta isolada das demais. Os
fungicidas com sulfato de cobre são os recomendados. É mais frequente em
Oncidium, mas também aparece em Brassavola, Brassia, Bulbophylum, Capanemia,
Catasetum, Cattleya, Cyrtopodium, Dendrobium, Encyclia, Epicattleya, Epidendrum,
Laelia, Lycaste, Masdevallia, Maxillaria, Miltonia, Odontoglossum, Phaius,
Pleurothallis, Rodriguezia e Zygopetalum.
– Cercosporiose : A infecção inicial
pode ocorrer em ambos os lados das folhas, mas geralmente manifesta-se na parte
inferior, onde surgem manchas amareladas e irregulares que com o tempo tomam a
coloração marrom escura com centro acinzentado. Também na parte superior
surgirão pequenas manchas circulares envoltas por um anel amarelado ou
arroxeado. Na sequência as manchas ficam necrosadas, cobrem as folhas inteiras
e acabam caindo. Períodos de chuva, seguidos de alta umidade relativa são
favoráveis para o desenvolvimento da moléstia. O fungo causador é o Cercospora
odontoglossi e os gêneros mais atacados são: Brassavola, Cattleya, Cymbidium,
Epidendrum, Miltonia, Oncidium, Laelia, Odontoglossum, Oncidium e Sophronitis.
Plântulas em bandejas coletivas são mais suscetíveis, pelo que é recomendável
usar potes individuais. Além do descarte das partes atacadas, o controle pode
ser feito com fungicidas à base de cobre, Manzeb e Ferban.
– Podridão da base : Também conhecido como Murcha do
Sclerotium, esta doença é causada pelo fungo Sclerotium rolfsii. Os sintomas
iniciais aparecem na base da planta, com um enrugamento e podridão dos talos e
algumas lesões escuras e irregulares nas folhas (começam nas bordas avançando
para toda a superfície). Ao redor das manchas surge um halo amarelado. Nos
tecidos das raízes e pseudobulbos observa-se um micélio branco (como algodão)
direcionando-se para as folhas. O apodrecimento da base impede a circulação
normal de seiva, o que prejudica toda a parte aérea. Este patógeno sobrevive em
substratos orgânicos por longos anos, vivendo de forma saprofítica, suportando
com grande resistência as adversidades climáticas. Quando as condições são
favoráveis rapidamente volta a se desenvolver. Alta umidade, temperaturas acima
de 26º C e substrato muito orgânico são as condições ideais para o fungo.
Substratos adequados, limpos e com bastante aeração e drenagem
garantem uma boa proteção contra esta doença. Cattleya, Dendrobium, Cymbidium,
Phalenopsis e Vanda são os gêneros mais suscetíveis.
– Manchas foliares de Phoma pestalozzia : Provoca o
trincamento das folhas e manchas alongadas ao redor das nervuras. O gênero de
orquídea mais sensível é a Vanda. O Cercobim é um fungicida que pode ser
utilizado.
Referências:
–
Complete guide to orchids – Miracle-gro USA
– Dendrobium nobile – Plants rescue – USA
– Diseases of Dendrobium Orchids – Charmayne Smith – Garden guides
– Problemas de la
orquídea Dendrobium – Yashekia King
– Fungus on Dendrobium Orchids – Renee Miller – Demand Media
– Diseases of Dendrobium Orchids – Audrey Stallsmith – Demand Media
– Pests and Diseases – James Watson
– The control of the fusarium wilt of orchids – G.D. Palmer – eHow contributor
– Black rot – Pythium and Phytophthora – St. Augustine Orchid Society
– Yellow spot
and blight of dendrobium leaves
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University of Hawaii
– Phyllosticta Leaf Spot – Susan Jones – American Orchid Society
– Levantamento e desenvolvimento de kit diagnóstico de patógenos e propagação in
vitro de orquídeas no estado do Rio de janeiro – Everaldo Hans Studt Klein
– Instituto de Biologia
– Black Rot of Orchids Caused by Phytophthora cactorumand Phytophthora
palmivora in Florida – R. A. Cating and
A. J. Palmateer, Tropical Research and Education Center, University of Florida
– The best fungicide for orchids – Victoria Lee Blackstone
– Doença de orquideas – Professor João Araújo – Agrônomo da UFRJ
– Aspectos de fungos fitopatogênicos em plantas ornamentais e seu controle –
Leila Nakati Coutinho
– Cercosporiose em orquídeas – Planta Sonya
– Orchid Culture – Diseases, Part 2 – The Flagrant Fungi – Sthepen Batchelor
– Sclerotium rolfsii – Nuevo patógeno de orquídeas para la República Argentina
/ Maria Galmarini, Maria cabrera, Eduardo Flachsland
– Epidemiologia de las enfermedades fungosas em orquideas – Ing. German Rivera
Coto M.Sc. – Fitopatólogo de la UNA – Argentina
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